WESLEY E A
ITINERÂNCIA
Quando meus pais se converteram e deixaram o Catolicismo, eu estava com
dez anos e, quase, toda a minha formação, educacional, secular e religiosa, me
foi dada sob a “bandeira Metodista”. Desde o meu primeiro Pastor, Dr. Ramis
Raal, até o último, Pastor José Carneiro Louzada ( quando fui para o “Campo
Missionário” ), era, comum, as idas e vindas, de Pastores, em nossa Igreja,
local.
Aprendi, estudando a Bíblia, que a “coluna” mais forte da tal “zona de
conforto”, é a “ fixação de raízes”, em um mesmo lugar. As pessoas se orgulham
de morar, na mesma cidade ou bairro, por várias décadas. Elas, sendo “do bem”,
são conhecidas e respeitadas, por todos. Elas tem crédito com o padeiro, com o
açougueiro e com o “seu José, da venda”. Mudar, para uma nova cidade, é algo,
por demais, desconfortante.
Conheço, e você, também, deve conhecer, uma família, “do bem”, que mora
a mais de uma geração, no mesmo bairro, e que, por isso, foram adquirindo casas
e propriedades, ali, e que irmãos, tios, filhos e netos, se tornaram
“poderosos”, no lugar ( tudo com muito suor e trabalho, ao longo dos anos ). Há
algum pecado, nisso ? Claro que não.
Porém, quando O SENHOR precisa de um homem ou de uma família, longe
dali, ou que um membro, da família, resolve romper com “essa cultura”, há uma
série de maus entendidos, e, as vezes, os mesmos são “taxados” de egoístas e
ingratos ( sem coração, por “separar” a família ).
Quando O SENHOR dá, ao homem, a função de povoar o Planeta, ele tinha
que avançar, tinha que ser peregrino nessa terra. Ele resolve se fixar e
construir uma grande cidade, um Império. A Trindade, Divina, interveem e
multiplica as línguas e confunde o idioma, fazendo o homem se separar, segundo
o idioma que falava ( os primeiros capítulos, do livro de Gênesis, faz você
conhecer esse episódio ). Se não fosse isso, o homem teria dificuldade para
chegar onde chegou e cumprir a Missão, recebida do Senhor.
Os
homens, que fizeram “grandes obras” para Deus, foram pessoas capazes de
acreditar, de tal maneira, que confiavam suas vidas e os rumos que ela tomaria,
à direção e dependência, total, do Senhor. Isto parece ser algo tão difícil
que, as vezes, como vimos, anteriormente, Deus precisa intervir, de uma forma
direta ou indireta.
No
caso da Mensagem do Evangelho, ELE permitiu que uma grande perseguição
espalhasse a Igreja, recém fundada, para lugares distantes e de difícil acesso.
Portanto, ser itinerante é ser Missionário e, não me pergunte por que, mas . .
. MISSÕES ESTÁ NO CORAÇÃO DE DEUS.
Conheci um lugar onde os Obreiros, por serem, em sua maioria, de tempo
parcial, manifestam grande dificuldade em lidar com a itinerância. Ouvi, muito,
a frase: “ A itinerância é “burra”; em time que está ganhando, não se mexe.”
Aos olhos humanos e naturais, ela, sempre, terá mais contras que prós. Olhando,
com os “olhos da fé”, o “time”, DO SENHOR, nunca perde; então, não se pode,
mesmo, mexer ( pois, até as aparentes derrotas, contribuem, para a vitória
daqueles que AMAM, AO SENHOR ).Portanto, nenhum Pastor deveria ser mudado. A
Igreja é vitoriosa e “as portas do inferno não prevalecerão, contra ELA.” O
ditado, popular, “”time que está ganhando”, não se aplica; pois, a verdadeira
Igreja, nunca estará perdendo. Quanto a ser “burra” . . .
Somos Wesleyanos, a itinerância foi praticada por Wesley que, além de
espiritual, era professor universitário, portanto, não pode ser fruto de uma
estupidez. Creio na itinerância como uma Obra, singular, na vida, espiritual,
do Obreiro. Tudo que contribui para nossa vaidade, arrogância e
engrandecimento, pessoal, não é espiritual e não faz bem para nossa alma. O
ficar, acaba gerando isso. Se eu sou “do bem” e se a Igreja é DO SENHOR, não
tem como o trabalho não crescer (com raríssimas exceções). Se estou a décadas
em um mesmo lugar, os jovens, foi EU que batizei, os diáconos, foi EU que
consagrei, as crianças, foi EU que apresentei, as famílias, recém formadas, foi
EU que casei, as congregações, foi EU que abri ... ... etc, etc. Isto, que é natural, passa a
querer me dizer que EU SOU BOM, DEMAIS. Começo a me envaidecer e, até, a me
insubordinar; porque, como falamos das famílias anteriores, de acordo com esse
sistema, SOU PODEROSO e tenho várias famílias, desde o “berço”, sob MEU DOMÍNIO,
ESPIRITUAL. Quantos Obreiros tem se perdido nessa enganosa vaidade e nessa
fantasiosa arrogância. Poucos tem experiência, suficiente, para lidarem com
isso, sem sofrerem prejuízos, espirituais.
Portanto, a itinerância, para mim, trabalha, especificamente, com a vida
e o Ministério do Obreiro. Após preparar e formar Obreiros para os desafios
daquela Igreja local, começar a achar que tudo já está “sob controle”, chega
uma nova transferência e um novo desafio. Começamos, tudo, novamente. Nosso
descanso não é aqui. Vamos cumprindo o nosso Ministério e fazendo a OBRA DO
SENHOR, até que ELE venha ou que partamos, ao SEU ENCONTRO.
Em
uma das cidades, que Pastoreei, após uma reunião do Conselho de Pastores,
conversava com um colega, de outra denominação, sobre o nosso Concílio, que se
aproximava. Ao lhe falar sobre a possibilidade de ser transferido, ele
retrucou: “Em mim, ninguém toca. Tenho mais de uma década, aqui, e fui eu quem
conseguiu as maiores conquistas da minha denominação, nessa cidade. Sou
intocável !” Senti uma “pitada” de arrogância, misturada com vaidade, com
cheiro de insubordinação, na voz daquele Obreiro.
De
que me adiantaria ganhar muitas almas e vir a me perder ? Se me torno uma
pessoa arrogante e presunçosa, não importa o que está causando isso, o que é
fato é que serei reprovado pelo MEU SENHOR. Portanto, em minha vida, a
ITINERÂNCIA tem contribuído para me manter humilde e, totalmente, dependente DO
SENHOR e dos MILAGRES DO ESPÍRITO SANTO. Maranata !
Pastor e Professor José Pereira Sotéro.