segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Wesley e a Itinerância


WESLEY E A ITINERÂNCIA

          Quando meus pais se converteram e deixaram o Catolicismo, eu estava com dez anos e, quase, toda a minha formação, educacional, secular e religiosa, me foi dada sob a “bandeira Metodista”. Desde o meu primeiro Pastor, Dr. Ramis Raal, até o último, Pastor José Carneiro Louzada ( quando fui para o “Campo Missionário” ), era, comum, as idas e vindas, de Pastores, em nossa Igreja, local.
           Aprendi, estudando a Bíblia, que a “coluna” mais forte da tal “zona de conforto”, é a “ fixação de raízes”, em um mesmo lugar. As pessoas se orgulham de morar, na mesma cidade ou bairro, por várias décadas. Elas, sendo “do bem”, são conhecidas e respeitadas, por todos. Elas tem crédito com o padeiro, com o açougueiro e com o “seu José, da venda”. Mudar, para uma nova cidade, é algo, por demais, desconfortante.
          Conheço, e você, também, deve conhecer, uma família, “do bem”, que mora a mais de uma geração, no mesmo bairro, e que, por isso, foram adquirindo casas e propriedades, ali, e que irmãos, tios, filhos e netos, se tornaram “poderosos”, no lugar ( tudo com muito suor e trabalho, ao longo dos anos ). Há algum pecado, nisso ? Claro que não.
          Porém, quando O SENHOR precisa de um homem ou de uma família, longe dali, ou que um membro, da família, resolve romper com “essa cultura”, há uma série de maus entendidos, e, as vezes, os mesmos são “taxados” de egoístas e ingratos ( sem coração, por “separar” a família ).
          Quando O SENHOR dá, ao homem, a função de povoar o Planeta, ele tinha que avançar, tinha que ser peregrino nessa terra. Ele resolve se fixar e construir uma grande cidade, um Império. A Trindade, Divina, interveem e multiplica as línguas e confunde o idioma, fazendo o homem se separar, segundo o idioma que falava ( os primeiros capítulos, do livro de Gênesis, faz você conhecer esse episódio ). Se não fosse isso, o homem teria dificuldade para chegar onde chegou e cumprir a Missão, recebida do Senhor.
        Os homens, que fizeram “grandes obras” para Deus, foram pessoas capazes de acreditar, de tal maneira, que confiavam suas vidas e os rumos que ela tomaria, à direção e dependência, total, do Senhor. Isto parece ser algo tão difícil que, as vezes, como vimos, anteriormente, Deus precisa intervir, de uma forma direta ou indireta.
        No caso da Mensagem do Evangelho, ELE permitiu que uma grande perseguição espalhasse a Igreja, recém fundada, para lugares distantes e de difícil acesso. Portanto, ser itinerante é ser Missionário e, não me pergunte por que, mas . . . MISSÕES ESTÁ NO CORAÇÃO DE DEUS.
        Conheci um lugar onde os Obreiros, por serem, em sua maioria, de tempo parcial, manifestam grande dificuldade em lidar com a itinerância. Ouvi, muito, a frase: “ A itinerância é “burra”; em time que está ganhando, não se mexe.” Aos olhos humanos e naturais, ela, sempre, terá mais contras que prós. Olhando, com os “olhos da fé”, o “time”, DO SENHOR, nunca perde; então, não se pode, mesmo, mexer ( pois, até as aparentes derrotas, contribuem, para a vitória daqueles que AMAM, AO SENHOR ).Portanto, nenhum Pastor deveria ser mudado. A Igreja é vitoriosa e “as portas do inferno não prevalecerão, contra ELA.” O ditado, popular, “”time que está ganhando”, não se aplica; pois, a verdadeira Igreja, nunca estará perdendo. Quanto a ser “burra” . . .
        Somos Wesleyanos, a itinerância foi praticada por Wesley que, além de espiritual, era professor universitário, portanto, não pode ser fruto de uma estupidez. Creio na itinerância como uma Obra, singular, na vida, espiritual, do Obreiro. Tudo que contribui para nossa vaidade, arrogância e engrandecimento, pessoal, não é espiritual e não faz bem para nossa alma. O ficar, acaba gerando isso. Se eu sou “do bem” e se a Igreja é DO SENHOR, não tem como o trabalho não crescer (com raríssimas exceções). Se estou a décadas em um mesmo lugar, os jovens, foi EU que batizei, os diáconos, foi EU que consagrei, as crianças, foi EU que apresentei, as famílias, recém formadas, foi EU que casei, as congregações, foi EU que abri ...   ... etc, etc. Isto, que é natural, passa a querer me dizer que EU SOU BOM, DEMAIS. Começo a me envaidecer e, até, a me insubordinar; porque, como falamos das famílias anteriores, de acordo com esse sistema, SOU PODEROSO e tenho várias famílias, desde o “berço”, sob MEU DOMÍNIO, ESPIRITUAL. Quantos Obreiros tem se perdido nessa enganosa vaidade e nessa fantasiosa arrogância. Poucos tem experiência, suficiente, para lidarem com isso, sem sofrerem prejuízos, espirituais.
          Portanto, a itinerância, para mim, trabalha, especificamente, com a vida e o Ministério do Obreiro. Após preparar e formar Obreiros para os desafios daquela Igreja local, começar a achar que tudo já está “sob controle”, chega uma nova transferência e um novo desafio. Começamos, tudo, novamente. Nosso descanso não é aqui. Vamos cumprindo o nosso Ministério e fazendo a OBRA DO SENHOR, até que ELE venha ou que partamos, ao SEU ENCONTRO.
         Em uma das cidades, que Pastoreei, após uma reunião do Conselho de Pastores, conversava com um colega, de outra denominação, sobre o nosso Concílio, que se aproximava. Ao lhe falar sobre a possibilidade de ser transferido, ele retrucou: “Em mim, ninguém toca. Tenho mais de uma década, aqui, e fui eu quem conseguiu as maiores conquistas da minha denominação, nessa cidade. Sou intocável !” Senti uma “pitada” de arrogância, misturada com vaidade, com cheiro de insubordinação, na voz daquele Obreiro.
        De que me adiantaria ganhar muitas almas e vir a me perder ? Se me torno uma pessoa arrogante e presunçosa, não importa o que está causando isso, o que é fato é que serei reprovado pelo MEU SENHOR. Portanto, em minha vida, a ITINERÂNCIA tem contribuído para me manter humilde e, totalmente, dependente DO SENHOR e dos MILAGRES DO ESPÍRITO SANTO. Maranata !



Pastor e Professor José Pereira Sotéro.